Ele é o ambientalista mais procurado de Campos, sempre tem uma opinião formada e já se tornou referência em tudo que fala e escreve, no mundo acadêmico e também na mídia. Arthur Soffiati é historiador de formação, mas desde a década de 1970, vem se especializando em história ambiental.
Autor de 34 livros, não quis descansar durante a aposentadoria, tanto que tomou um fôlego durante a quarentena e escreveu 10 exemplares. No dia 30 de abril, Soffiati vai lançar simultaneamente os livros durante uma cerimônia na Academia Campista de Letras, que fica no Jardim São Benedito. O evento está marcado para ás 17h da tarde.
Poeta, escritor, professor, jornalista é até difícil numerar tantas atuações de Soffiati, dá para sintetizar dizendo que ele é um apaixonado por escrever. “Minha formação foi muito marcada pelo enciclopedismo modernista, principalmente por Mário de Andrade. Ela se processou antes da fase das especializações. Daí meu interesse por ecologia, biologia, história, literatura e artes. Meu pai tinha uma biblioteca. Foi nela que me iniciei em literatura. Minha mãe era pianista e bailarina. Com ela, nasceu meu interesse por música erudita”, afirma Soffiati.
Os livros que serão lançados são: Espécies Exóticas no Norte do Rio de Janeiro, O Dourado e a Piabanha, Dez anos de enchentes e estiagens, Em meio a pandemia, Intervalo, O ano da pandemia, O Manguezal e a Humanidade, O Norte do Rio de Janeiro no Século XVI, Os quatro elementos e por último, Primordios do Modernismo no Brasil, Parte 1. Todos eles foram escritos durante a pandemia.
“Lançar todos juntos foi uma questão de demanda reprimida. Depois de me aposentar, não passei a usar pijama e chinelo para ficar diante de uma televisão vendo minha vida passar. Pelo contrário, dediquei-me a desenvolver meus projetos, que estavam engavetados. Escrever sobre diversos temas é meu interesse. Durante a pandemia, publiquei muito, mas não pude fazer lançamentos presenciais, com exceção de um em Búzios. Então, estou lançando tudo o que publiquei nos últimos três anos. Fiz a proposta à Academia Campista de Letras e seu presidente, Christiano Fagundes , topou”, explica o escritor.
Os livros de Soffiati passeiam entre literatura, poesia, documentação histórica e meio ambiente. Importante destacar que o escritor recupera traços regionais importantes, material que é estudado por muitos pesquisadores e será usado também, pelas futuras gerações de estudantes. Já que livros são como filhos, a expectativa é que a “família” de Soffiati continue crescendo.
“A rigor, contando com os opúsculos, estou a caminho do 34° livro. Já são duas gerações deles. O primeiro data de 1977. Portanto, já tenho filhos e netos na forma de livros. De fato, fica difícil para um pai e avô ter preferências. Eu diria apenas que meus netos de hoje são mais belos que meus filhos de ontem. Mas tenho um carinho especial por todos, mesmo sabendo que minha família literária não tem a mesma importância que a de autores renomados. Mas a família é minha e a amo”, brinca Soffiati.
Até bem pouco tempo Soffiati se orgulhava do celular sem muitos recursos tecnológicos, durante a pandemia estava sempre de pronto e alerta, para responder os e-mails. O que sempre fez com rapidez e o rigor do comprometimento, hoje está aprendendo a se comunicar ainda mais nas redes sociais, sempre com a proposta de se comunicar cada vez mais.
“Tenho conversado com algumas pessoas e lido entrevistas de outras. A aposentadoria e a pandemia trouxeram depressão a muitas. Uma colega se matou por conta de uma forte depressão pós-aposentadoria. No geral, as pessoas sentem falta de fazer refeições fora e de festas no final de semana. De veraneio. Trancadas em casa, ficam ansiosas. Nada disso acontece comigo. Minha casa e meu trabalho me confortam. Adoro ficar em casa, embora sinta falta das minhas excursões “científicas”. Mas o trabalho intelectual preenche a minha vida. Só tenho uma angústia: saber que estou mais perto da morte hoje do que ontem. Da morte natural, por envelhecimento. Meu livro “Em meio à pandemia” reúne estudos sobre pensadores que refletiram sobre a pandemia, ficção produzida durante esta pandemia e as anteriores, a influência das pandemias sobre a arte. Já em “O ano da pandemia”, reúno os contos que escrevi em 2020-21. Escrevo conto há muito tempo, mas só agora tomei coragem de reunir alguns em livro”, conta Soffiati.
A própria vida de Soffiati daria um bom livro, aos 75 anos, tem a clareza e a força de vontade de sempre continuar, conhecer o novo e se aventurar. Desde a infância foi movido a desafios, talvez tenha sido por isso, que vem alcançando tantas coisas boas e reunindo admiradores.
“Minha formação básica foi muito descontínua e tardia. Comecei a estudar com nove anos e só consegui terminar fazendo um curso supletivo. Formei-me em história pela Faculdade de Filosofia de Campos em 1973. Comecei minha vida de professor em 1970. Deu aula no Liceu, no curso pré-vestibular Savart e na UFF. Cursei mestrado e doutorado na UFRJ, já passando dos 40 anos. Dediquei-me à história ambiental. Aposentei-me em 2011. Passei 40 anos da minha vida sem nunca tirar o pé de sala de aula. Paralelamente, tive (acho que ainda tenho) uma vida de ativista em defesa do meio ambiente”, finaliza Soffiati.
Acompanhe alguns artigos feitos por Soffiati aqui no Rota Verde:
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