Um projeto experimental de biotecnologia está transformando resíduo de saneamento básico, conhecido por lodo, em adubo para ser usado na agricultura. A empresa Águas do Paraíba junto com pesquisadores da Universidade Estadual do Norte Fluminense, Uenf, desenvolveram o projeto “Fertilizantes do Bem”, em Campos dos Goytacazes, interior do Rio de Janeiro. O material passou por campos de experimentos e mostrou um ótimo desempenho quando testado em lavouras da região, a fase ainda é experimental, mas o próximo passo é fazer uma produção em larga escala, com apoio de uma startup.
O acordo de Cooperação Técnica firmado pela empresa Águas do Paraíba com a Uenf, tem duração de cinco anos. O objetivo foi desenvolvimento de pesquisas em Biotecnologias aplicadas à Bioconversão de Resíduos de estações de tratamento de água e esgoto. A parceria tem como objetivo unir os esforços acadêmicos, científicos e tecnológicos comuns.
Saneamento
O tratamento de esgoto faz parte do saneamento básico, os dejetos saem das redes coletoras e seguem para as estações que retiram o máximo de impurezas, tudo que é tratado volta para os rios e afluentes, mas existe o resíduo que é chamado de lodo, onde fica concentrada a maior parte da sujeira. O que sempre foi um desafio do ponto de vista ambiental e economico, já que as empresas mandam esses resíduos para os aterros sanitários, com custo alto e não sendo uma solução ambiental ideal, levando em consideração que os aterros ficam sobrecarregados com o restante dos resíduos urbanos.
“O lodo do esgoto é um passivo ambiental muito relevante para a área de saneamento, se nós pensarmos que o Brasil hoje só tem 50% da população com saneamento básico, nós podemos imaginar a quantidade de lodo que já é produzido e quanto mais passará a ser produzido, com o marco legal do saneamento que vai expandir esse número. O lodo do esgoto é o resultado do tratamento do esgoto e atualmente isso é direcionado para aterro sanitário, que é um problema, porque para o aterro isso também não é um material de boa qualidade”, explica o professor da Uenf, Gonçalo Apolinário de Sousa que está a frente da pesquisa.
Pesquisa
O objetivo foi desenvolver pesquisas em biotecnologias aplicadas na bioconversão de Resíduos de estações de tratamento de água e esgoto. Basicamente, estudar o que era possível fazer com o lodo. A solução encontrada foi transformar o rejeito em adubo orgânico.
“Para nós esse lodo tradicionalmente envia esse lodo para o aterro sanitário, essa é uma solução que do ponto de vista ambiental é aceitável, mas não ideal. A gente poder aproveitar esse lodo e poder transformar nesse biofertilizante voltado a aumentar a produtividade agrícola das culturas aqui da região é realmente, inserir todo o tratamento de esgoto nesse conceito de economia circular”, Marilene Ramos, Gerente de Sustentabilidade da empresa Águas do Paraíba.
A primeira pesquisa teve início em 2021 e é dedicada à “Bioconversão de lodo de esgoto sanitário por meio da compostagem, com a utilização do adubo orgânico gerado no cultivo de milho”, que é a dissertação da especialista de Operações da concessionária, Jéssica Rodrigues, mestranda em Biotecnologia Vegetal na instituição. Novas pesquisas tiveram início em 2022, incluindo o desenvolvimento de inoculantes para compostagem de lodo e testes de fertirrigação com água de reúso de estação de tratamento de esgoto.
O lodo de esgoto tem altos custos de manejo, transporte e destinação final, e traz riscos para o meio ambiente e a saúde humana, quando mal gerenciado. A iniciativa busca trazer uma nova alternativa de disposição final, mais sustentável e com viabilidade econômica, visando ao conceito de economia circular. A compostagem é uma metodologia de higienização do lodo e eliminação dos agentes patogênicos, além de promover a reciclagem dos nutrientes para aplicação agrícola do adubo produzido, conforme preconiza a Resolução CONAMA 498 publicada em 2020. Águas do Paraíba tem, atualmente, um custo anual de R$ 450 mil reais com destinação do lodo para o aterro sanitário.
Em maio de 2021, foi iniciado o primeiro experimento do projeto “Fertilizante do bem”, com duas leiras de compostagem com técnicas de aeração distintas. O adubo orgânico já está pronto e atestado com laudos analíticos, que atenderam aos limites máximos permitidos na legislação vigente para as substâncias químicas (metais) e biológicas (microrganismos patogênicos). Em março de 2022, três novas leiras de compostagem foram montadas para o segundo experimento.
“Testamos para a produção de soja, produção de milho, soro biomassa e vamos começar a testar também para a pastagem. Nosso composto orgânico produzido tem uma capacidade muito superior, nutricionalmente ele é mais conhecido e uniforme. Vai junto com a matéria orgânica, ajuda a otimizar e teve aumento de cultura em todas que foram usadas”, explica o professor.
O trabalho dentro dos laboratórios também é grande, além das testagens no campo, boa parte da pesquisa acontece na Uenf. A Jéssica Luize também é pesquisadora, ela também contribui nesse processo desenvolvendo inoculantes aceleradores de compostagem. “O meu trabalho é verificar, isolar a degradação, a partir daí verificar se tem um micro-organismo mais eficiente para poder otimizar esse processo de compostagem”, conta a pesquisadora.
Ciência em tudo
O trabalho inovador já está inspirando outras empresas do ramo de saneamento que buscam a mesma solução. É a ciência mais uma vez mostrando que está em todo lugar. “Eu vejo desde de pequena a ciência como a modificação do mundo. Eu sou professora também, falo com meus alunos o que vocês acham que realmente é lixo? A gente produz muito lixo, a gente tem o saneamento básico, mas a gente nunca pensa no destino final. Quando a gente tem esse contato, a gente leva esse choque de como a gente está prejudicando o nosso planeta. Quando eu passo para os meus alunos, nossa existe uma compostagem do logo do esgoto, as pessoas não imaginam, só sabem que o saneamento gera um resíduo e isso precisa ser jogado fora. É muito gratificante olhar e pertencer a uma pequena modificação, a tudo que está acontecendo. É muito gratificante”, finaliza Jéssica Luize, Mestranda biotecnologia Vegetal e que também está na pesquisa.
Confira a matéria completa:
Lodo como adubo:
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