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Arthur Soffiati

Arthur Soffiati

- Historiador com doutorado na Universidade Federal do Rio de Janeiro, colaborador com a imprensa e autor de 26 livros.

Lagoas

Teríamos uma visão incompleta e incorreta se tratássemos apenas dos rios que cortam o território entre os rios Itapemirim e Macaé. Sempre considerando que traçamos uma região que abrange uma parte da Serra do Mar baixa e de altitude, duas unidades de tabuleiros, uma grande planície aluvial e três restingas, cumpre observar que, nela, formaram-se muitas lagoas, principalmente nas partes baixas e quase sempre associadas a rios. O número e a formação delas superam os da Região dos Lagos, levando-nos a concluir que a verdadeira região dos lagos localiza-se no norte fluminense e sul capixaba.

A zona serrana tem mais de 600 milhões de anos. É, portanto, o mais antigo terreno da região norte/noroeste fluminense e sul capixaba. Ela é drenada pelos principais rios que a cortam: Paraíba do Sul, Pomba, Muriaé, Dois Rios, Colégio, Imbé, Macaé, Guaxindiba, Itabapoana e Itapemirim. Na parte alta da serra, não existem lagoas, como na Suíça, por exemplo, mas na parte baixa, encontram-se a encantadora lagoa de Cima, a lagoa de Imburi e as lagoas gêmeas do Pau Funcho. Associada ao rio Macabu, existiam algumas lagoas no passado. A mais conhecida delas era a lagoa dos Patos, que foi mutilada pela BR-101. Na parte alta, apenas um espelho d´água mereceria atenção: a lagoa Preta, em Miracema. Examinada mais de perto, porém, ela parece resultado de uma represa. Os poços d’água formados por cachoeiras, como as dos pequenos rios que descem do Imbé, não podem ser consideradas verdadeiras lagoas.

Visão parcial das lagoas de Cima e do Pau Funcho

Com idade estimada em cinco milhões de anos, os tabuleiros são o segundo terreno mais antigo da Ecorregião de São Tomé, recorte que envolve o norte-noroeste fluminense e o sul capixaba. O nome homenageia o cabo de São Tomé e a capitania de São Tome. A principal porção deles se estende da margem esquerda do rio Paraíba do Sul à margem direita do rio Itapemirim, já no Espírito Santo. Existe uma porção menor em Quissamã. Tudo indica que ambas formavam uma só unidade que foi cortada pelo avanço do mar entre 7.000 e 5.100 anos antes do presente. Muitas lagoas se formaram na porção norte, principalmente oriundas de córregos barrados pela ponta setentrional da grande restinga formada pelo rio Paraíba do Sul. Na margem esquerda do rio Muriaé ainda existem lagoas representativas dos tabuleiros. A menos adulterada é a lagoa Limpa.

Visão da lagoa Limpa, margem esquerda do rio Muriaé

A planície aluvial formada pelo rio Paraíba do Sul, principalmente, é um terreno construído nos últimos 5 mil anos com sedimentos carreados da zona serrana e dos tabuleiros. Constituída sobre o mar, a planície apresenta uma ligeira declividade em direção à costa. Algo em torno de dez metros (altura de Campos) para zero (altura do nível do mar). Havia nela uma profusão de lagoas de água doce. A maior lagoa da planície e da região é a Feia. Atividades rurais e urbanas ameaçam as poucas lagoas que restaram na planície aluvial. A lagoa Feia integra um sistema hídrico constituído principalmente pelos rios Imbé e Urubu, lagoa de Cima, rios Ururaí e Preto e um sistema de defluentes naturais no sul dela que formavam outrora o rio Iguaçu.

Visão parcial da lagoa Feia

Além do mais, o sistema hídrico do Paraíba do Sul é ligeiramente mais alto que o sistema Ururaí. Assim, nas cheias do passado, os transbordamentos fluíam do Paraíba do Sul para o complexo Ururaí. A baixa declividade originava um grande número de lagoas na margem direita do Paraíba do Sul. Essas lagoas se ligavam dependendo do volume d’água transbordado ou eram alimentadas pelo grande rio por meio do lençol freático. A maior parte delas foi drenada para ampliar as atividades rurais.

Lagoas de tabuleiros, planície aluvial e restinga de acordo com Alberto Ribeiro Lamego, 1954

Nas franjas dos tabuleiros e da planície aluvial, formaram-se três restingas. A de Marobá é a menor e se encontra na margem esquerda do rio Itabapoana junto à sua foz. A segunda, formada pelo jato do Paraíba do Sul e pelas correntes marinhas, é a maior do Estado do Rio de Janeiro. Na margem direita do Paraíba do Sul, encontram-se as maiores lagoas de planície aluvial e de restinga. Uma delas, era um rio que se transformou na lagoa do Açu. Na antiga restinga que se estende da atual Barra do Furado ao rio Macaé, também formou-se um colar de lagoas arredondadas e de pequenas dimensões, assim como lagoas alongadas oriundas de antigos riachos barrados pela força do mar.

Visão aérea da lagoa do Açu