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Equipe da Uerj conclui etapa de pesquisas na Antártica. Documentário registra a história do módulo brasileiro

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Pesquisadores do Instituto de Biologia Roberto Alcantara Gomes (Ibrag) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) finalizaram, no início deste ano, mais uma fase das atividades de campo no Criosfera 1, primeiro módulo científico brasileiro na Antártica. Instalado no meio do continente gelado, o laboratório completou dez anos de funcionamento. O trabalho tem o objetivo de analisar o clima e a concentração de dióxido de carbono (principal gás de efeito estufa), a partir da coleta de dados na região que se refletem em todo o planeta.

“É importante saber como ocorre a dinâmica local para que essas informações orientem modelos que possam prever melhor a questão da perda de massa de gelo e, consequentemente, sua contribuição para a elevação do nível do mar. Também analisamos o impacto do buraco na camada de ozônio sobre o meio ambiente antártico. Uma maior quantidade de raios ultravioleta incide na superfície, o que traz várias consequências para a vida terrestre e marinha”, explica o professor Heitor Evangelista, do Departamento de Biofísica e Biometria (DBB) do Ibrag, coordenador científico do consórcio que abrange outras instituições de pesquisa brasileiras.

Estudos recentes mostram aumento na temperatura anual da área nas últimas décadas. Globalmente, a península e o centro-oeste da Antártica são as regiões que mais sofrem aquecimento. “Este ano, instalamos dois sensores para monitorar as radiações UV-A e UV-B e, desta forma, avaliar a recuperação da camada de ozônio”, acrescenta Evangelista.

Potencial para pesquisas

Outra frente de trabalho dos pesquisadores é a microbiologia, que estuda formas de vida que só podem ser vistas com a ajuda de microscópio. “O gelo antártico é uma matriz biotecnológica de enorme potencial. Estudar os micro-organismos presentes na Antártica é estar na vanguarda sobre novos produtos que possam contribuir futuramente para o desenvolvimento da medicina e áreas afins”, afirma Cesar Amaral, professor do DBB.

O módulo brasileiro fica no centro da Antártica / Foto: Heitor Evangelista
Os trabalhos na Antártica incluem membros do Laboratório de Radioecologia e Mudanças Globais (Laramg), do DBB. “Realizamos o monitoramento de aerossóis, aerobiologia, raios cósmicos e gases de efeito estufa na Antártica”, conta o pós-doutorando Sergio Gonçalves sobre o trabalho feito em parceria com o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF).

“Esse estudo é fundamental para entendermos melhor os ciclos que garantem a reciclagem de elementos químicos na natureza e os fatores pelos quais essas regiões são influenciadas. Dessa forma, é possível observar os impactos das queimadas da América do Sul e Austrália, as erupções vulcânicas, a poeira proveniente da Patagônia, o impacto do turismo costeiro e as emissões das estações científicas”, exemplifica Gonçalves.

Durante esta última viagem, aconteceram os primeiros testes do Atmos (Atmospheric Monitoring System), ferramenta de monitoramento ambiental totalmente desenvolvida no Laramg. O protótipo, instalado na Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), base do Programa Antártico Brasileiro (Proantar), conta com sensores para acompanhamento de gases de efeito estufa e registro de informações de temperatura e umidade, dentre outros parâmetros, proporcionando, assim, a análise simultânea com os dados gerados pelo Criosfera 1.

Ainda este ano, em cooperação com a Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA), foi iniciado o estudo de um poluente específico que tem chamado a atenção em pesquisas ambientais: o microplástico. “São experimentos em fase inicial. Ainda há muito o que se aprender com esse processo”, declara Evangelista.

As ações servirão como base de dados para alimentar uma plataforma de informações mais consistentes sobre a área, possibilitando entender melhor as consequências das mudanças climáticas, rastrear as possíveis massas de ar que levam conteúdo atmosférico para o continente e quais os possíveis impactos humanos que a região sofre. A expectativa dos cientistas é embarcar novamente para a Antártica no fim do ano, durante o verão no hemisfério Sul.

Documentário

Villela, Sampaio, Evangelista e Passos reunidos no documentário Os quatro pesquisadores em ação na Antártica
A trajetória de uma década de pesquisas virou filme. No documentário “Criosfera 1 – 10 anos no coração da Antártica”, elaborado com apoio da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), os cientistas que idealizaram o projeto relembram a criação do módulo, instalado a 2,5 mil quilômetros ao sul da área da EACF. Além de Heitor Evangelista, outros três pesquisadores dão seus depoimentos: Marcelo Sampaio e Heber Passos, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e Franco Nadal Villela, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

“Ir para o centro da Antártica era um sonho, mas não tínhamos essa infraestrutura do Brasil. A primeira vez em que pisamos lá foi numa expedição junto com um grupo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. E vimos que era possível, sim, porque outros países já estavam presentes, e não podíamos ficar para trás. Então, assim que surgiu a oportunidade de um edital do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), levamos adiante essa nossa ideia louca”, conta Evangelista.

O pesquisador da Uerj afirma que a instalação do laboratório automatizado trouxe novos caminhos ao Proantar, que até 2012 se concentrava na borda do continente, onde fica a EACF. “Dentro da Antártica é outro desafio. Mas conseguimos manter, ao longo desses dez anos, um módulo operacional, enviando dados que ficam disponíveis para toda a comunidade científica internacional”, explica.

Confira o documentário completo:

https://www.criosfera1.com/documentario

Fonte: Diretoria de Comunicação da UERJ
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