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Imagem de um toco de árvore indicando o desmatamento no Rio de Janeiro

Restaram apenas 6% de vegetação nativa no Norte Fluminense

Áreas verdes são quase raras quando a gente da uma volta pelo Norte do estado do Rio de Janeiro. O visual muda para pasto e quase nada de florestas.

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Áreas verdes são quase raras quando a gente da uma volta pelo Norte do estado do Rio de Janeiro. O visual vai mudando para pasto, erosões e quase nada de florestas. São séculos de muito desmatamento, pouca recuperação e quase nada de consciência que floresta significa vida. Algumas iniciativas existem para tentar recuperar um pouco de tanto descaso, mas ainda é como se fosse aquela gotinha no oceano.

O município de Campos dos Goytacazes está inserido no bioma da Mata Atlântica. Segundo as classes dos ecossistemas locais associados ao bioma apresentadas pelo Manual Técnico da Vegetação Brasileira (IBGE, 2012), possuímos outras formações além das florestas nativas, como é o caso, por exemplo, dos campos aluviais, os campos de altitude, do manguezal e da restinga.

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“Nós mantemos uma atenção especial (e pertinente) aos desmatamentos, entretanto, a supressão de vegetação nativa ocorre também nos ecossistemas locais que não são florestas. No último levantamento elaborado pelo Sistema de Alerta do MapBiomas foi apresentada a supressão de 33,8 hectares (01 hectare = 10.000 m² = aproximadamente 01 campo de futebol tipo Maracanã) em Campos dos Goytacazes entre 2021 e 2023, o que pode parecer pouco dado ao tamanho da área abrangida pelo município, mas não é devido ao nível atual de devastação”, explica Osmane Ribeiro, Eng° Florestal e Professor do EBTT , IFF Guarus.

Ainda de acordo com o professor, historicamente Campos é bastante descaracterizado devido ao uso do solo pela agricultura com a cana-de-açúcar e pecuária, restando apenas 6% da área original com os ecossistemas nativos. O dado é da Fundação SOS Mata Atlântica, que diz que o que sobrou acaba ficando concentrado nas partes mais altas que englobam o Parque Estadual do Desengano.

A maior parte do Imbé está inserida na Unidade de Conservação, as áreas mais altas estão cobertas de florestas densas ou pertencem aos campos de altitude que, sofreram intervenções antrópicas diretas, mas mínimas quando comparadas com as encostas e as áreas mais baixas do município

“Através de imagens de satélites  verificamos que é possível identificar os locais que sofreram mais desmatamentos, ou mesmo, supressões de vegetação nativa. Incêndios de toda ordem são fatores de descaracterização da flora nativa. Acessando a plataforma do Programa de Monitoramento de Queimadas, o BDQueimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), podemos visualizar em tempo real os focos de incêndios e dados estatísticos não só na nossa região como em todo o país”, explica o professor Osmane.

Agricultura sem consciência

Os especialistas afirmam que o mais degradou a região foi a atividade agrícola e a pecuária. “Destacamos que os nossos campos aluviais de planície e as florestas nativas eram exuberantes mesmo no final do século XIX, quando prevaleciam numerosos pequenos e rústicos engenhos segundo o modelo produtivo daquele tempo. A partir da década de 30 do século XX, grande parte destes ecossistemas nativos foram suprimidos através da drenagem de áreas baixas visando a ampliação das áreas de plantio, bem como pela retirada da vegetação arbórea para o fornecimento de lenha para as caldeiras das usinas. O modelo de produção se alterou, com predominância de grandes complexos agroindustriais consumindo elevadas quantidades de matéria prima e insumos energéticos. Com a falência deste modelo a partir dos anos 70, muitas áreas foram abandonadas ou convertidas em pastos, que não retornaram às condições originais”, garante Osmane.

O fato é que o clima de Campos vem mudando assustadoramente nas últimas décadas. “O clima local pode ser influenciado pelo desflorestamento, já que as nativas geram umidade em forma de vapor através transpiração vegetal, podendo ser convertida em chuvas a depender de muitos fatores. Cabe ressaltar, que as alterações climáticas e os seus efeitos negativos, aos quais estamos sujeitos na atualidade, decorrentes não só da supressão dos ecossistemas nativos, possuem uma ordem de grandeza que vai além das fronteiras geográficas restritivas”, afirma o professor do IFF Guarus.

Ações de recuperação

Iniciativas como a implantação de projetos de restauração florestal com emprego de espécies nativas locais, além de outras técnicas como o estímulo à regeneração natural em áreas com capacidade de desenvolver processos de sucessão florestal, contribuem significativamente para o aumento da biodiversidade, permitem o controle de erosões nos solos, entre outros benefícios. “ Nos dando a oportunidade de pagar parte das dívidas históricas acumuladas por séculos de degradação, como consequência dos modelos insustentáveis de produção adotados, e que são atualmente incompatíveis com a legislação ambiental em vigor. Mais do que isso, as dívidas contraídas foram irresponsáveis considerando o direito de outras formas de vida (não humanas) e os elementos como o solo, a água e ar fazerem parte de um todo no mesmo tempo e espaço. As áreas degradadas dos topos de morros, encostas, faixas ciliares de rios e lagoas, as restingas, os manguezais, as demais Áreas de Preservação Permanente e Reserva Legal, poderiam ser priorizadas e restauradas, cabendo conceber programas continuados do poder público que envolvam principalmente a criação de Unidades Demonstrativas servindo de referência técnica aos proprietários rurais”, finaliza Osmane.

Ações do Governo do Estado

Hoje o Estado do Rio de Janeiro conta com 1.3 milhão de hectares de Mata Atlântica, o que significa que são 30% de cobertura florestal na área total do território fluminense. Cerca de 58% dessa área está dentro de unidades de conservação. Já as propriedades privadas/rurais respondem por cerca de 45% da área.

No monitoramento do estado, feito de entre 2017 e 2019, foi possível observar uma perda de cobertura florestal ilegal próxima de 300 hectares. Esse número, nas análises dos anos 80, era de cerca de 3.500 hectares.  “Os órgãos ambientais estaduais atuam pesadamente na fiscalização e combate do desmatamento (Olho no Verde) e também na promoção do reflorestamento, com o Florestas do Amanhã. Em termos de investimento para restauração, contamos com cerca de 410 milhões de reais para aumentar em 10% a cobertura florestal fluminense até 2050 e mais 200 milhões em parcerias de reflorestamento com o BNDES para os próximos 7 anos”, afirma Telmo Borges, Engenheiro Florestal e Superintendente de Mudança Climática, SEA.

Acompanhe a matéria completa:

Desmatamento – Como a história foi cruel com as nossas florestas.

Confira dados sobre desmatamentos na região:

https://queimadas.dgi.inpe.br/queimadas/bdqueimadas https://queimadas.dgi.inpe.br/queimadas/portal

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