Dalva Ringuier e o Caparaó Capixaba

O encontro de Dalva Ringuier com o Caparaó estava escrito literalmente, ela precisava fazer uma tese sobre a Bacia do Rio Itapemirim, isso na década de 1980, a pesquisa foi sobre as nascentes que estão dentro do Parque Nacional do Caparaó. Só que desde então algo mudou na vida dela, nunca mais essas terras, as águas e floresta saíram de sua vida. A ambientalista sentiu que era preciso preservar uma das áreas mais importantes do país, fazer as pessoas entenderem que era preciso amar a região, foi então que surgiu um sentimento forte de pertencimento, que foi decisivo para um desenvolvimento sustentável.

“Na pesquisa, eu descobri que o Itapemirim tinha grande parte de suas nascentes no Parque Nacional do Caparaó, assim com o Rio Itabapoana e um tributário do Rio Doce, que é o Rio José Pedro. Entendi que o Caparaó é um grande produtor de águas. Estudamos e descobrimos que o Espírito Santo tem 80% do Parque e o Pico da Bandeira, está no município de Ibitirama, sendo território Capixaba”, explica Dalva.

Foram descobertas decisivas para região, que rapidamente foi tomando papel de destaque, já que antes a porção mineira sempre tinha essa ascensão. “Em 1995, como diretora de Educação Ambiental do Estado na SEAMA , voltei ao Caparaó e em reunião com lideranças , sentimos o desejo de todos de abrir uma portaria do lado capixaba. Levamos a demanda para o Governo do Estado, criamos o Fórum Pró Caparaó, unindo os municípios e juntos fomos a Brasília, conversar também com o Ministério do Meio Ambiente e foi deliberado uma equipe técnica do IBAMA, que veio fazer um estudo técnico de viabilidade”, afirma Dalva.

As expectativas chegaram ao fim com a abertura do acesso capixaba, no dia 22 de setembro de 1998, com presença de várias autoridades. Essa abertura do Parque foi fundamental para o desenvolvimento do turismo sustentável da região. Só que ainda tem um detalhe, nesta época, ainda não existia oficialmente a Região do Caparaó Capixaba. “Mais uma vez, fomos conversar com a Assembléia Legislativa e com algumas reuniões itinerantes com o Legislativo Estadual, conseguimos criar a região do Caparaó Capixaba”, conta Dalva.

Não tinha nada mesmo, pousadas, restaurantes, hóteis ficavam na parte já desenvolvida do Parque, em Alto Caparaó, estado de Minas Gerais. Falar de turismo no Espírito Santo era uma coisa muito longe, a cultura agrícola forte de produção de café e leite, tinha muita dificuldade de virar a chave para preservação e para mostrar as pessoas a região, muitos que moravam nas localidades não faziam ideia da importância do lugar.

“Junto com a Secretaria Estadual de Turismo, foi criado o programa “Cama e Café”, que era a hospedagem nas casas das propriedades rurais e urbana, foi exatamente dessa forma “rústica” que começou o turismo na região. Quem queria conhecer o lugar ficava hospedado em sítios, onde os moradores abriam as portas, acolhiam e ainda ofereciam um café da manhã bem local” afirma a ambientalista.

Consórcio do Caparaó

Outro movimento importante no crescimento do turismo na região foi a criação do Consórcio do Caparaó, uma união de lideranças políticas, estudiosos, agricultores e a população em geral. Foi feito um Plano de Desenvolvimento Sustentável da Região que estabeleceu as prioridades básicas, sempre pensando em preservação da mata, conservação das nascentes e a estrutura como um todo. Tudo foi pensado, do saneamento até os cursos de educação ambiental que aconteciam todos os anos. Sem falar que na cultura, o Consórsio também deixou suas marcas, o “Mova Caparaó” exibiu 90 documentários de contos e casos verídicos do Caparaó. Dalva Ringuier foi Diretora por anos, ficou um tempo afastada e agora está de volta.

A Dalva se tornou referência quando o assunto é Caparaó, muitas entrevistas, palestras, reuniões com autoridades e envolvimento em cada detalhe da transformação do lugar, que passado quase 40 anos desde o início do processo, vem se transformando e mostrando que é possível preservar, levando em conta uma economia sustentável. A Dalva passou a ser chamada de madrinha do Caparaó, também foi o distrito de Mundo Novo, em Dores do Rio Preto, em uma propriedade que faz limite com o Parque Nacional, que ela encontrou um lar. Há alguns anos, fez uma pousada e tem uma RPPN em 80% da propriedade.

“Entendo que ser chamada de Madrinha é uma forma carinhosa e de respeito por muitas pessoas , que de alguma forma participaram de todo esse processo e hoje são tão importantes como caparaoense”, fala emocionada.

Agora como moradora e mestre no tema Caparaó, Dalva vê com preocupação as mudanças de alguns trechos da região. “Hoje tenho uma preocupação enorme com a forma de uso e parcelamento do solo, a ocupação e parcelamento das áreas de preservação permanente, a zona de amortecimento do PARNA, sem falar da a quantidade de lixo e esgoto produzidos, lembrando também que a iluminação prejudica a fauna”, finaliza Dalva Ringuier.

Saiba mais: 

A microrregião Caparaó, no lado do Espírito Santo, é composta de 11 (onze) municípios que são: Alegre, Divino de São Lourenço, Dores do Rio Preto, Guaçuí, Ibatiba, Ibitirama, Irupi, Iúna, Muniz Freire, São José do Calçado e Jerônimo Monteiro. Perfazendo uma área de 3.426 Km2, representando cerca de 8% do território do Estado Santo, possuindo uma população em torno de 171.189 hab (IBGE, 2007), do total da população 45% encontram-se no meio urbano e 55% no meio rural. Esta região abriga O PARNA CAPARAÓ com uma área de 31.000 ha. 

Maior “caixa d´água” do Espírito Santo, o Caparaó abriga as bacias hidrográficas dos rios Itapemirim, Itabapoana e Santa Maria do Rio Doce, afluente do Rio Doce, além da maior unidade de conservação do estado, onde a Mata Atlântica pulsa exuberante, com toda a sua biodiversidade e belezas naturais.