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Apontada como extinta em parte da costa do RJ, onça-parda é flagrada em Maricá

Imagens do felino foram feitas por armadilhas fotográficas, que registaram também o gato maracajá

Considerada extinta há quase um século na região costeira metropolitana do estado do Rio de Janeiro, a onça-parda (Puma concolor) voltou a ser registrada por pesquisadores em uma mata de Maricá.

O flagrante foi feito por armadilhas fotográficas instaladas por cientistas no Refúgio de Vida Silvestre do município da Região dos Lagos (Revimar). Além da suçuarana, como também é conhecida, outro felino ameaçado de extinção, o gato maracajá, foi fotografado na área de conservação.

De acordo com o biólogo e membro do Núcleo de Fotografia Científica Ambiental da Uerj, Izar Aximoff, a presença destes animais na região é motivo de comemoração. Historicamente, o habitat natural deles era perto do mar. Porém, após serem caçados, perseguidos e expulsos por séculos, eles hoje resistem somente em fragmentos montanhosos, e se pensava que haviam desaparecido das áreas costeiras.

Acredita-se que atualmente haja mais de um animal destas espécies no Revimar e por isso os estudos estão sendo ampliados para o mapeamento e preservação.

Os levantamentos são recentes. Segundo o biólogo, durante a pandemia, as equipes do Revimar começaram a colocar armadilhas fotográficas na área de proteção para identificação da fauna, principalmente mamíferos terrestres.

“Depois de dois anos de monitoramento, começaram a registrar a presença da onça-parda e do gato maracajá. Estas duas espécies de felinos estão ameaçadas de extinção, sendo que a onça-parda é o segundo maior felino brasileiro, ficando só atrás da onça-pintada”, destacou Izar Aximoff

O biólogo cotou ainda que a gestora do Revimar, Márcia Freitas, foi quem o convidou para coordenar a pesquisa no local.

“Ela ficou preocupada porque a onça-parda é um animal de grande porte, que precisa de um território também extenso, e a unidade de conservação, embora tenha um tamanho relativamente grande, mesmo assim é um território pequeno para ela.

Diante da preocupação, ela entrou em contato comigo, que sou especialista em felinos. Fui fazer uma visita à unidade e ela me solicitou que passasse a coordenar a pesquisa com mamíferos lá”, detalhou.

O trabalho desde então vem sendo ampliado com a instalação de mais armadilhas fotográficas.

“Os animas foram registrados em uma área pequena, então a gente vai ampliar o esforço de amostragem e a área pesquisada para de fato saber quantos indivíduos são. Se tem alimentação suficiente para ela lá? Se existem ameaças ou pressões que de repente venham a incidir sobre ela, como por exemplo, a presença de espécies exóticas, como cachorros, a presença de caçador, de área desmatada na unidade… A gente vai aumentar o estudo destes animais e tentar definir possíveis vetores de pressão”, explicou Izar, ressaltando que a pesquisa vai ser conduzida pela Uerj, em parceria com a Prefeitura.

Os registros recentes são importantes porque garantem a confirmação da presença da onça-parda nesta zona costeira, que reúne o município do Rio, Niterói e Maricá.

“Até então, os últimos registros da presença da espécie nesta região, eram de 1936. Tem um livro chamado de Sertão Carioca, no qual o autor Magalhães Corrêa, cita a presença da onça-parda nas restingas da Barra da Tijuca e Jacarepaguá, que já não existem mais. Então estes foram últimos relatos”, afirmou o biólogo.

Ele lembrou também que, em 2020, uma câmera de segurança filmou um animal da mesma espécie em Guaratiba, que fica no município do Rio.

“Depois deste registro das câmeras de segurança, não teve nenhum outro desta onça-parda, então não dá para confirmar, a partir disso, que de fato tenha o animal, porque um indivíduo só, e só um registro por câmera de segurança, não garante nada para a gente. Os registros de Maricá agora são importantes por conta disso. As imagens confirmam a presença dela e do gato maracajá nesta região costeira metropolitana”, completou.
No litoral fluminense existem outras unidades de conservação fora da região metropolitana, que, segundo ele, o animal já foi observado, embora não tenha sido registrado com imagem fotográfica.

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Preservação das espécies é o desafio

A perspectiva dos pesquisadores agora é ampliar o trabalho com a vertente de prevenção e de fiscalização. Apesar destes animais não serem apontados como um perigo para a sociedade, acabam muitas vezes mortos.

“A ideia é que a gente faça um mapeamento das propriedades que estão no entorno do Revimar para verificar aquelas que têm criação de animais e a partir disso passar algumas orientações para evitar possíveis ataques. Por exemplo, a colocação de cercas elétricas, durante à noite recolher os animais para que eles não fiquem expostos a onças ou algum outro felino, para evitar possíveis mortes de felinos por retaliação. A gente sabe que muitas vezes acontece isso, do felino pegar um animal de valor alto e o dono fica com raiva e mata o felino, então a gente quer evitar isso”, disse o biólogo.

O apoio Polícia Ambiental também é visto como fundamental.

“A todo tempo a gente vai estar amparado, porque muitas vezes a gente pode encontrar com caçadores durante o momento que está percorrendo as trilhas para colocar as armadilhas fotográficas”, finalizou.

Sobre a reserva
O Revimar tem nove mil hectares, mais do que o dobro do Parque Nacional da Tijuca, e se estende por 25% do território de Maricá. É maior do que municípios como Búzios e Belfort Roxo, por exemplo.

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