Nova espécie de planta é encontrada no Parque Nacional do Caparaó

Microlicia caparaoensis se destaca pela beleza de sua flor, entre as novas cinco espécies identificadas em território capixaba

A exuberância e a importância ambiental do Parque Nacional do Caparaó ganharam um reforço de peso com a descoberta de uma nova espécie de planta, tanto do lado capixaba, quanto do mineiro. É a Microlicia caparaoensis, uma das cinco descobertas botânicas no Espírito Santo, publicadas recentemente em revistas científicas.

Segundo o Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA), as cinco novas espécie são de uma mesma família. Quatro delas endêmicas das terras capixabas, foram descritas recentemente, sendo que três delas são criticamente ameaçadas de extinção e ocorrem em locais sem proteção legal.

Três das cinco espécies estão descritas em artigo publicado no dia 8 de março, na revista Rodriguésia, e as outras duas foram publicadas em novembro, na revista Nordic Journal of Botany.

Para os pesquisadores, isso evidencia o quão rica em diversidade biológica é a região de Mata Atlântica na qual o Espírito Santo está situado.

Microlicia caparaoensis, uma das cinco descobertas botânicas no Espírito Santo,

A família é Melastomataceae, que tem 203 espécies registradas no Espírito Santo, das quais 53 são endêmicas – isso quer dizer que somente são encontradas no estado. Embora essas plantas sejam objeto de estudos, no Brasil, há mais de 200 anos, apenas recentemente o Espírito Santo entrou na rota da pesquisa de forma mais intensiva. Dessas 203 espécies, 48 foram descritas neste século, quase todas endêmicas.

“Isso mostra que o estado é extremamente rico, que os estudos tradicionais ignoraram o Espírito Santo e que somente com os recentes esforços de coletas, especialmente pela equipe e colaboradores do herbário do Museu de Biologia Prof. Mello Leitão, gerido pelo INMA, essa riqueza está sendo mostrada. A equipe do INMA e seus colaboradores acessam locais remotos, de difícil acesso, para fazer as coletas, essenciais a essas descobertas. Trabalhos recentes nos apontam que ainda deve ter muita coisa para descrever”, destaca o pesquisador Renato Goldenberg, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), um dos autores dos dois artigos.

Além da Microlicia caparaoensis, que se destaca pela cor roxa é endêmica do Parque Nacional do Caparaó, foram identificadas as Microlicias capixaba e amisteriosa só é encontrada nas montanhas do Alto Misterioso, em São Roque do Canaã.

Ainda de acordo com o Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA), também foram descritas mais duas espécies de Miconia endêmicas do Espírito Santo: a “quartzicola”, coletada no município de Vargem Alta; e a “spiritusanctensis”, coletada no Parque Estadual do Forno Grande, em Castelo, e arredores. Ambas são consideradas como ameaçadas – “criticamente em perigo” e “em perigo”, respectivamente, de acordo com os critérios de risco de extinção da União Internacional para a Conservação da Natureza.

Algumas dessas novas espécies já haviam sido coletadas há mais tempo, mas não estavam descritas. A Miconia spiritusanctensis foi coletada pela primeira vez em 1985 e Microlicia caparaoensis, em 1988.

“Essas amostras já estavam em herbários desde então, mas não identificadas porque ninguém sabia dar nome para elas. Isso porque elas pertencem a grupos muito complexos, em que a distinção entre as espécies é difícil. Foi necessário um trabalho de ‘revisão taxonômica’, uma avaliação de várias amostras nos herbários e, no primeiro caso, também estudo mais aprofundado sobre ‘envelopes climáticos’ e ‘biogeografia’ para poder confirmar que eram realmente novas”, explica Goldenberg.

Renato Goldenberg, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), um dos autores dos dois artigo publicados em revistas científicas.
Espécies ameaçadas monitoradas

Os estudos apontas que a Miconia quartzicola, Microlicia capixaba e Microlicia misteriosa são criticamente ameaçadas de extinção e ocorrem em locais sem proteção legal – somente existem fora de unidades de conservação.

“Essas áreas vêm sendo fortemente alteradas pela extração de quartzo (ou “saibro”, como é conhecido na região), usado em pavimentação ornamental”, alerta o pesquisador.
Já a Microlicia capixaba e Microlicia misteriosa só ocorrem no Alto Misterioso, vale do Canaã, na região de Santa Teresa, onde está sediado o INMA.

“É um morro isolado, não protegido e também com espécies exclusivas, descritas recentemente: Huberia misteriosa (Melastomataceae), descrita em 2019, Luxemburgia mysteriosa, descrita em 2007, e Begonia mysteriosa, descrita em 2008, por exemplo”, completa Goldenberg.

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Jovens pesquisadores integraram descobertas

As equipes dos artigos publicados têm entre seus membros jovens pesquisadores, que terminaram seus doutorados recentemente. Uma delas, a pesquisadora Ana Flávia Alves Versiane, concluiu o doutorado em 2019, na Unicamp, onde também estudaram Lucas Bacci e Thuane Bochorny.

“Fiquei extremamente feliz com as descobertas e tenho bastante orgulho de como o trabalho ficou. Nossos resultados nos mostraram o quão diverso é o Espírito Santo e que, para conhecer essa diversidade, é necessário estudá-la”, comemora Ana Flávia.

Para o INMA, a pesquisa científica exige continuidade, e a interação entre diversas gerações de pesquisadores, especialmente estudantes de pós-graduação, garante que a produção do conhecimento não seja interrompida.

“Os cursos de pós-graduação e as bolsas de pesquisa para jovens doutores são fundamentais para o desenvolvimento da ciência. São os jovens que levarão adiante as pesquisas já iniciadas e permitirão que alcancem cada vez mais resultados. A parceria entre supervisores e seus orientandos permite o debate amplo e a troca de conhecimentos, promovendo uma interação muito produtiva com desfechos bem promissores, como o que obtivemos nestes trabalhos”, destaca Renato.

*Com informações do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA).

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