Bióloga capixaba descobre nova espécie de inseto na região e dá o nome de Alegre

Jovem apaixonada por insetos identificou a espécie na Cachoeira da Fumaça no município, que fica no Caparaó

Um inseto para chamar de seu. Pode até parecer estranho, mas o município de Alegre, no Caparaó Capixaba, virou notícia internacional ao ser território da descoberta de uma espécie de inseto, que nunca havia sido catalogada.

Depois de quatro anos de estudos, o inseto, denominada “Thraulodes alegre”, foi encontrado na região da Cachoeira da Fumaça, que fica no município, pela bióloga capixaba Thayna da Silva Raymundo, de 26 anos, e sua equipe na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). O nome da espécie é uma homenagem à cidade onde foi descoberta.

Embora seja confundido com um mosquito comum, de acordo com Thayna Raymundo, é um inseto que não representa nenhum dano aos seres humanos. Ele vive em ambientes de água doce com presença de correnteza, podendo servir até como bioindicador da qualidade da água, além de serem alimento para aves, morcegos e sapos.

Segundo a bióloga, a pesquisa nasceu a partir do estudo da revisão do gênero Thraulodes para o Espírito Santo, proposto por Frederico Falcão Salles, então professor da Ufes e orientador de Thayna.

“O material da nova espécie foi coletado pela pesquisadora Jeane Nascimento, mas, para fazer a revisão, eu peguei todo o material coletado desde de 2011, que estava depositado na Ufes, e comecei a analisá-lo. Com os resultados, encontramos quatro espécies desse gênero para o estado e, como não conseguimos identificar uma delas, percebemos que se tratava de uma nova espécie”.

Inseto "Alegre"

O artigo com os resultados da pesquisa foi publicado na revista científica internacional Zootaxa, no fim do ano passado. O que também agradou a bióloga foi a repercussão da notícia.

“No Brasil, a pesquisa e os pesquisadores não são incentivados, não são motivados. Então geralmente quando a gente descobre coisas legais, estas coisas só alcançam os nossos pares, pesquisadores que estudam a mesma área que a gente. Não tem uma divulgação ampla e, quando tem, o retorno não é tão significativo em relação a trabalho. Quando a gente consegue sair dos nossos pares, isso já é mais que válido e foi o que aconteceu com este artigo, que a gente começou a fazer em 2017 e só foi publicado no final do ano passado. Levou até um tempo considerável para a publicação de uma espécie”, destacou a pesquisadora.

Ainda segundo ela, o objetivo maior do pesquisador, quando faz um trabalho como este, é que as pessoas, pelo menos parcialmente, consigam visualizar e entender um pouquinho da diversidade biológica do município, não só de fauna, de inseto.

“Alegre é um município muito rico em questões biológicas e a gente conseguiu mostrar isso alcançando as mídias sociais. Então parte da população conseguiu ver. Já é mais do que válido, porque realmente estas coisas ficam engavetadas e só os pesquisadores que ficam por dentro. Uma parcela muito pequena das pesquisas chega ao público em geral. Sempre que tenho a oportunidade de falar, eu menciono a importância dos insetos, da diversidade do Espírito Santo, das espécies novas para que possam ser pensadas políticas públicas para a conservação”, destacou a bióloga.

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Uma paixão declarada por insetos

Moradora do município de Serra, na região metropolitana do ES, Thayna Raymundo se declara no seu perfil em uma rede social como uma apaixonada por insetos.

Foi aos 17 anos, quando iniciou o curso de licenciatura em Biologia no Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), campus Santa Teresaque, que ela começou a se interessar pelos insetos, primeiro pelas abelhas.

“Eu comecei Biologia em 2013. Entrei na área porque queria salvar as tartarugas marinhas. Aí eu fui fazer licenciatura e no decorrer do curso eu fui vendo que a área marinha não era a minha praia, literalmente. Foi no meio do curso que eu me interessei por insetos polinizadores, insetos que fazem iteração com as plantas com flores e que são muito importantes.

O meu contato com os insetos começou por aí. A minha paixão começou pelas abelhas. Antes, eu não tinha muito contato com os insetos a não ser, estes que a gente sempre encontra em casa”, lembrou Thayna.

Mas, como uma pesquisadora nata, a jovem não para de se dedicar a área que escolheu ainda na adolescência.

“Depois fui fazer o bacharelado em Biologia na Ufes, em São Mateus, entre 2017 e 2019, e foi aí que que tive a oportunidade de entrar em contato com insetos aquáticos. Depois disso não parei mais. Em 2019 eu passei no mestrado em Entomologia, que é a área que estuda insetos, na Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais. Fui para lá, porque eu sabia que era isso que eu queria estudar. Terminei o mestrado em 2021, trabalhando com insetos aquáticos”, disse a pesquisadora.

Atualmente, desde o ano passado, ela trabalha em um projeto chamado “Borboletas, Cores da Mata Atlântica”.

“Fui convidada a ser coordenadora do Projeto no Espírito Santo. A gente trabalha com a conservação de borboletas capixabas. Nós temos o foco na difusão científica, na conservação e na educação ambiental. O projeto é de uma ONG, o Instituto Marcos Daniel (IMD), que tem vários projetos de conservação.

Contamos com apoio da iniciativa privada. Eu recebo uma bolsa como coordenadora do projeto”, ressaltou.

Para ela, a repercussão da descoberta do inseto “alegre” foi uma porta de entrada para poder conquistar outros avanços na área.

“A gente vai tentando fazer ciência da maneira que pode. As vezes não temos muito incentivo governamental, mas mesmo assim a gente não abandona e segura a peteca do jeito que dá. O nosso foco não é o inseto em si, não é a espécie nova, não é a borboleta X, sabe? O nosso objetivo maior é que as pessoas entendam e consigam compreender a importância dos insetos na nossa vida. De maneira direta e indireta. O nosso objetivo maior é levar mesmo a mensagem de conservação de seres que às vezes passam desapercebidos por nós ou que a gente não dá tanta importância, mas que estão aí e que são fundamentais, inclusive para a nossa própria existência”, comentou a jovem.

Sobre a espécie aquática descoberta

O inseto “alegre” é do gênero Thraulodes, um dos mais ricos em espécies no mundo, por isso foi importante o trabalho em equipe na identificação, já que, além de Thayna, outros pesquisadores integraram o levantamento, que só foi possível também a partir de equipamentos laboratoriais essenciais.

“A descrição não é uma coisa fácil, nós temos que analisar estruturas específicas, olhar para outras espécies e ver o que há de comum e diferente em relação a elas. Então, é preciso estudar bem a parte morfológica do bicho para entender o que se destaca”, afirmou Thayna Raymundo.

Segundo a descoberta, a espécie, que faz parte da ordem Ephemeroptera (indivíduos que podem viver de poucas horas até algumas semanas, na fase adulta), possui apenas oito milímetros de tamanho e algumas características particulares, como o final do abdômen esbranquiçado e parcialmente translúcido; lateral final do corpo com manchinhas na cor marrom escuras e formato retangular; asa transparente com coloração amarela esbranquiçada; e três veias basais cruzadas em uma região específica da asa.

A pesquisa revelou ainda que, atualmente, somente a fase adulta do inseto é conhecida.

*Com informações da Ufes

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