Desmatamento, a fragmentação florestal e as mudanças no uso do solo prejudicam o cultivo do fruto, aponta a pesquisa. Crédito: Foto: Jeser Andrade Arango / Pixabay
Desmatamento, a fragmentação florestal e as mudanças no uso do solo prejudicam o cultivo do fruto, aponta a pesquisa. Crédito: Foto: Jeser Andrade Arango / Pixabay

Preservação florestal impulsiona produtividade do cacau no Pará e Bahia, revela estudo

Compartilhe:

Pesquisa aponta que a conservação das florestas favorece a produção de cacau e reforça a importância de práticas agrícolas sustentáveis

A relação entre conservação ambiental e produtividade agrícola acaba de ganhar um novo capítulo. Um estudo publicado na revista Environmental Conservation revelou que a manutenção e recuperação da cobertura florestal estão diretamente ligadas ao aumento da produtividade do cacau, especialmente nos estados do Pará e da Bahia, responsáveis por 93% da produção nacional do fruto.

Realizado por pesquisadores do Instituto Tecnológico Vale (ITV) e das universidades federais do Pará (UFPA) e de Goiás (UFG), o levantamento analisou dados de 161 municípios ao longo de 36 anos (1985 a 2021). No total, foram avaliados 552 mil hectares de áreas cultivadas, considerando variáveis ambientais como cobertura florestal, fragmentação da vegetação e extensão das áreas cultivadas. Os resultados confirmam que a preservação da floresta melhora a produtividade, enquanto o desmatamento excessivo pode comprometer a colheita do cacau.

Preservação florestal elevou produtividade do cacau em 65% no Pará

Os impactos da conservação da floresta foram mais evidentes no Pará. Segundo os pesquisadores, municípios que preservaram suas matas registraram um aumento de até 65% na produtividade do cacau em relação à década de 1980.

Em contrapartida, regiões paraenses com alto índice de desmatamento tiveram perdas severas, chegando a uma queda de mais de 40% na produção. Esse declínio reforça a importância de práticas agrícolas que respeitem o equilíbrio ecológico.

Na Bahia, o cenário foi diferente. A maioria dos municípios estudados apresentou queda na produtividade ao longo dos anos, reflexo do desmatamento intenso ocorrido desde o século XVIII com a degradação da Mata Atlântica. No entanto, aqueles que investiram na recuperação da vegetação nativa conseguiram reduzir os impactos negativos e preservar parte da produtividade.

Para o pesquisador Gustavo Júnior de Araújo, do ITV e principal autor do estudo, os dados comprovam que a perda de cobertura florestal é um fator determinante para a queda na produção do cacau.

“Independentemente do histórico de uso do solo, nosso trabalho deixa claro que a perda de cobertura florestal impacta diretamente a produtividade. A conversão de florestas para agricultura, sem planejamento sustentável, compromete a produção a longo prazo”, alerta Araújo.

Área analisada abrange 161 municípios responsáveis por 93% da produção nacional de cacau. Crédito: Senar

Tamanho da propriedade influencia benefícios da conservação

Outro fator analisado pelo estudo foi o tamanho das propriedades rurais. No Pará, os municípios onde o cacau não é o principal cultivo mostraram um contraste:

  • Grandes propriedades (acima de 10 hectares) foram beneficiadas pela presença da floresta, pois possuem mais recursos para investimentos em tecnologia e logística.
  • Pequenos produtores enfrentaram desafios, pois a distância entre as áreas de floresta e os centros comerciais, além da falta de acesso a tecnologias e financiamento, dificultou o aproveitamento dos benefícios ambientais.

Esse cenário aponta para a necessidade de políticas públicas que incentivem práticas agrícolas sustentáveis, garantindo que pequenos agricultores também possam colher os benefícios da preservação ambiental.

Entre 1985 e 2021, municípios que conservaram ou recuperaram sua cobertura florestal registraram aumento na produtividade do cacau. Crédito: Maíra Erlich/TNC Brasil

Monocultivos intensivos ameaçam florestas e produtividade do cacau

O estudo também alerta para os riscos da produção intensiva de cacau a pleno sol, uma prática cada vez mais comum entre agricultores que buscam acelerar os lucros. Esse modelo, além de esgotar os recursos naturais, pode comprometer a sustentabilidade da produção ao longo dos anos.

O desmatamento para monocultivos prejudica serviços ecossistêmicos essenciais, como:

  • Regulação do clima
  • Controle natural de pragas
  • Manutenção da fertilidade do solo

Araújo enfatiza que é essencial substituir práticas prejudiciais por sistemas agroflorestais, que combinam o cultivo do cacau com árvores nativas, promovendo maior biodiversidade e resiliência ambiental.

“Precisamos de incentivos para expandir práticas sustentáveis e garantir a rentabilidade do cacau sem comprometer o meio ambiente”, defende o pesquisador.

Soluções para um futuro sustentável da produção de cacau

Os resultados do estudo reforçam que o futuro da produção de cacau no Brasil depende da conservação ambiental. Para isso, algumas ações são fundamentais:

  • Investimento em agrofloresta – Combinar o cacau com árvores nativas melhora a qualidade do solo e reduz pragas.
  • Políticas de incentivo à conservação – Medidas governamentais devem apoiar produtores que preservam áreas florestais.
  • Mais pesquisas sobre impactos ambientais – Estudos contínuos ajudam a entender os efeitos da agricultura sobre o meio ambiente.

Com um modelo sustentável, o Brasil pode continuar sendo um líder na produção de cacau, garantindo não apenas produtividade e lucro, mas também preservação ambiental e qualidade de vida para as futuras gerações.

Referências da notícia
Agência Bori. Conservação florestal garante a produtividade do cacau no Pará e na Bahia, mostra estudo. 2025

Environmental Conservation. Tropical forests and cocoa production: synergies and threats in the chocolate market. 2025

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *