A região do Hindu Kush Himalaia (HKH), conhecida como a “torre de água da Ásia”, registrou em 2025 seu nível mais baixo de neve em 23 anos, segundo relatório do Centro Internacional para o Desenvolvimento Integrado de Montanhas (ICIMOD). A redução drástica na cobertura de neve coloca em risco o abastecimento de água de quase 2 bilhões de pessoas que dependem do degelo sazonal para consumo, agricultura, energia hidrelétrica e outros serviços essenciais.
Três anos consecutivos de neve abaixo da média
De acordo com o Relatório de Atualização de Neve, este é o terceiro ano consecutivo em que a região apresenta níveis de neve inferiores ao normal. A persistência da neve — tempo em que a neve permanece no solo — atingiu um recorde negativo, com apenas 23,6%, o menor índice em duas décadas.
Pema Gyamtsho, diretora-geral do ICIMOD, alertou que as emissões de carbono colocaram a região em uma rota de anomalias recorrentes. Ela defende uma mudança urgente para políticas sustentáveis, baseadas na ciência, e uma maior cooperação regional para gestão das águas transfronteiriças e mitigação das emissões.
Impactos diretos no abastecimento hídrico e na segurança alimentar
As bacias hidrográficas que nascem no HKH — incluindo rios como o Ganges, Mekong e Salween — dependem fortemente do degelo. Em média, o derretimento sazonal da neve representa 25% do fluxo anual desses rios, porcentagem que chega a ser ainda maior nas regiões mais ocidentais.
A contínua redução da neve implica menor volume de água disponível, o que agrava o estresse hídrico, especialmente durante o início do verão. Comunidades ribeirinhas, já afetadas por ondas de calor mais intensas e precoces, são as mais vulneráveis.
Sher Muhammad, especialista do ICIMOD e autor principal do estudo, destacou a gravidade da situação:
“Estamos diante de déficits sucessivos, uma tendência alarmante que exige ações imediatas nas bacias hidrográficas.”
Regiões mais afetadas pela redução da neve
As maiores quedas na persistência de neve foram registradas em:
- Bacia do Mekong: déficit de 51,9%
- Bacia do Salween: redução de 48,3%
- Planalto Tibetano: queda de 29,1%
Esses números refletem a severidade das flutuações sazonais e anuais observadas, principalmente nos últimos cinco anos.
Ações urgentes para enfrentar a crise hídrica no Himalaia
O relatório do ICIMOD propõe medidas estratégicas para mitigar os impactos da escassez de água:
- Investimento em infraestrutura adaptativa, como sistemas de armazenamento de água sazonal.
- Eficiência no uso da água do degelo para agricultura e geração de energia.
- Desenvolvimento de planos nacionais de resposta a secas e anomalias de neve.
- Integração de dados climáticos nas políticas de gestão de recursos hídricos.
- Disseminação de informações para apoiar decisões baseadas em evidências.
Especialistas reforçam que, sem ações coordenadas e eficazes, a crise de neve no HKH poderá comprometer a segurança hídrica, alimentar e energética de grande parte da Ásia.
O desafio da transição climática na região
Além dos impactos diretos, o relatório destaca o paradoxo da transição energética: muitos dos minerais essenciais para tecnologias verdes estão em áreas montanhosas habitadas por comunidades vulneráveis, o que pode gerar novos conflitos e violações de direitos.
O alerta do ICIMOD é claro: é preciso repensar a gestão dos recursos naturais diante das mudanças climáticas aceleradas. A redução da neve no Himalaia não é apenas um problema regional, mas uma ameaça global, considerando a importância estratégica dessa região para bilhões de pessoas.