Se o ritmo atual de emissões de gases de efeito estufa não for drasticamente reduzido, o planeta pode estar caminhando para uma nova extinção em massa, comparável à ocorrida no Período Permiano, entre 299 e 251 milhões de anos atrás, quando cerca de 90% das espécies desapareceram. O alerta veio do pesquisador britânico Hugh Montgomery, professor da University College London e um dos principais autores do relatório The Lancet Countdown 2024, referência global sobre saúde e mudanças climáticas.
A declaração foi feita na abertura da Forecasting Healthy Futures Global Summit, conferência internacional sobre clima e saúde que teve início nesta terça-feira (8), no Rio de Janeiro. O Brasil foi escolhido para sediar o evento em preparação para a COP 30, que acontece em novembro de 2025 em Belém (PA).
Acelerando rumo ao colapso
Para Montgomery, a extinção em curso é a mais rápida já registrada na história do planeta — e tem origem na ação humana. “Se continuarmos golpeando a base dessa coluna instável sobre a qual estamos apoiados, a própria espécie humana estará ameaçada”, afirmou o cientista durante sua palestra.
Em 2024, a temperatura média global alcançou o aumento recorde de 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais. Se nada mudar, o aquecimento pode chegar a 2,7°C até o fim do século, ultrapassando o limite crítico para a estabilidade climática e da biodiversidade, com consequências irreversíveis.
“O ano passado foi marcado pela emissão de 54,6 bilhões de toneladas de CO₂ equivalente — um crescimento de quase 1% em relação ao ano anterior. A concentração atmosférica de dióxido de carbono não apenas continua subindo, como também acelera a cada ano”, destacou Montgomery.
Degelo, colapso climático e marés mais altas
A situação pode se agravar muito antes de 2100. Segundo o especialista, se o aquecimento atingir entre 1,7°C e 2,3°C, mesmo que temporariamente, poderá haver um colapso abrupto das camadas de gelo do Ártico. Isso afetaria diretamente a Circulação Meridional do Atlântico, corrente oceânica que regula o clima no hemisfério norte.
“Esse colapso levaria a uma elevação do nível do mar de vários metros, afetando diretamente milhões de pessoas em regiões costeiras e urbanas em todo o mundo”, alertou.
Metano, economia e urgência de ação
Outro elemento crítico destacado por Montgomery foi o metano, um gás com potencial de aquecimento 83 vezes maior que o dióxido de carbono. Ele é liberado principalmente pela exploração de gás natural, e representa uma das maiores ameaças ocultas ao clima.
Além dos riscos ambientais e humanitários, o pesquisador apontou perdas econômicas bilionárias. De acordo com suas estimativas, o mundo pode sofrer uma queda de até 20% no PIB global ao ano a partir de 2049 — o equivalente a cerca de US$ 38 trilhões por ano — caso os impactos climáticos não sejam contidos.
A saúde humana já está em risco
Para Montgomery, os efeitos das mudanças climáticas já afetam a saúde da população mundial, e medidas de adaptação precisam ser implementadas imediatamente. No entanto, ele destaca que isso não deve substituir a ação principal: reduzir drasticamente as emissões.
“Adaptar-se ao novo clima é necessário, sim. Mas não faz sentido tratar apenas os sintomas se não estamos combatendo a causa. A cura está em cortar as emissões, agora”, concluiu.
A Conferência Forecasting Healthy Futures segue com programação internacional ao longo da semana no Rio de Janeiro, reunindo especialistas de diversos países para debater os impactos da crise climática na saúde pública e estratégias para um futuro mais resiliente.
Fonte: Agência Brasil