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Arthur Soffiati

Arthur Soffiati

- Historiador com doutorado na Universidade Federal do Rio de Janeiro, colaborador com a imprensa e autor de 26 livros.

Região dos Lagos: sistemas hídricos (I)

Considerando a existência de uma grande Região dos Lagos e uma pequena, examinemos os sistemas hídricos que se encontram na primeira. A grande Região, como já vimos, estende-se da serra do Inoã, que a separa da baía de Guanabara, até o rio Macaé, que marca claramente duas fisionomias costeiras bem distintas: a entre Maricá e a margem direita do Macaé, apresenta-se pedregosa. Dele até o rio Itabapoana, levando-se este limite até o rio Itapemirim, já no Espírito Santo, a costa é nova e sem pedras. Exceto para aquelas que foram lançadas por mão humana.

Tomemos o rio Macaé. Ele nasce na Serra do Mar e desemboca no oceano Atlântico. No seu curso final, ele formou uma extensa planície aluvial conhecida outrora pelo nome de Brejo da Severina. Daí até a foz, ele foi canalizado pelo Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS). A área drenada transformou-se em campo destinado a atividades rurais. O complexo sistema hídrico do rio Macaé sofre, pela retaguarda, pressão do campo, enquanto que, do mar para o interior, a expansão urbana ameaça a complexa rede hídrica.

Leitos original e canalizado do rio Macaé. Foto do DNOS
Leitos original e canalizado do rio Macaé. Foto do DNOS

Pouco abaixo dele, corria outrora o rio Imboacica que tinha sua foz naturalmente barrada pelo mar, originando a lagoa de Imboacica. A comunicação periódica com o mar tornava salgada suas águas, como verificou o naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire em 1818. O rio Imboacica também foi canalizado pelo DNOS e se transformou numa vala irreconhecível. A barra da lagoa foi fixada. Suas águas se tornaram doces, mas um descontrolado processo de urbanização poluiu suas águas. Atualmente, um sistema de coleta de esgoto foi instalado na orla da lagoa. A tendência é a criação de dois ambientes: um de água doce, que consiste na lagoa, e outro de água salgada. Ambos separados por uma delgada restinga urbanizada. As faunas aquáticas também tendem a se especializar. Mas os pescadores abrem sua barra de tempos em tempos, provocando choque térmico e salino. Nessas ocasiões, as mortandades de peixe são grandes.

Rio e lagoa de Imboacica em 1957. Foto do DNOS
Rio e lagoa de Imboacica em 1957. Foto do DNOS

Entre o rio Macaé, encontram-se as lagoas de Imboacica, Itapebussus e Iriri, além de mínimos córregos. As lagoas dispõem-se em sentido perpendicular à costa, sugerindo terem sido rios outrora com barra permanente ou temporariamente abertas. Os córregos ainda continuam chegando ao mar.

Lagoa de Itapebussus segundo Maximiliano de Wied-Neuwied (1815)
Lagoa de Itapebussus segundo Maximiliano de Wied-Neuwied (1815)

O rio das Ostras é um pequeno curso d´água que nasce entre as serras do Pote e Careta, cerca de 250 metros de altitude, com o nome de Jundiá. Com esse nome percorre 16, 5 km. Ao encontrar-se com o rio Iriri, recebe o nome de Ostras. Em tupi, seu nome original era Reripe, que se transformou em Leripe. Reri significa ostra e pe significa caminho. Daí em diante, até o mar, percorre ainda 12,5 km, perfazendo um total de 29 km.

A urbanização da bacia do Ostras foi muito rápida e densa. Hoje, a cidade se aproxima de Macaé, formando uma conurbação. O pequenino rio não consegue abastecer o meio urbano. Daí a captação de água no rio Macaé para fins de abastecimento humano. Ele também está muito espremido pela cidade, apresentando altos índices de poluição.

Foz do rio das Ostras. Foto do autor
Foz do rio das Ostras. Foto do autor

Concluímos esse artigo como o rio São João, deixando para o próximo os rios e lagoas do que entendemos por pequena Região dos Lagos. Ao todo, sua extensão alcança 120 km, sendo um grande rio inteiramente situado no âmbito do território fluminense. Além de uma intrincada bacia formada por muitos rios pequenos e médios, destaca-se nela a lagoa do Juturnaíba. Vários núcleos urbanos ergueram-se no âmbito de sua bacia, mas a área urbana que mais exige dela é a pequena Região dos Lagos. A água para consumo urbano das cidades da Região dos Lagos provém dela.

Rio São João antes da canalização. Foto DNOS
Rio São João antes da canalização. Foto DNOS

O rio São João também foi canalizado por obras do DNOS, o que o mutilou muito. Outros rios da bacia também passaram por canalização. Muitas áreas alagadas e ricas em fauna aquática, terrestre e aquática foram empobrecidas.

Rio São João canalizado. Foto DNOS
Rio São João canalizado. Foto DNOS

Logo ao sul do São João, encontra-se a diminuta bacia do rio Una. Mas ela já se situa na pequena Região dos Lagos.

2 respostas

  1. Nosso Mestre com carinho! Obrigada por mais uma leitura! Artigo maravilhoso!

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