Neste mês de abril, completam-se 191 anos desde a visita ao Rio de Janeiro de um dos maiores naturalistas já conhecidos, Charles Darwin. Em 4 de abril de 1832 o biólogo desembarcava no território fluminense, lugar que marcou a viagem de cinco anos que fez ao redor do mundo a bordo do navio HMS Beagle.
Na primeira dessas viagens, a surpresa que o cientista britânico teve frente à natureza tropical brasileira, ao contemplar a região que hoje pertence ao Parque Estadual da Serra da Tiririca (PESET), não foi diferente de outros visitantes que se aventuraram pelo estado: espanto, surpresa e sobretudo admiração com toda a biodiversidade aqui presente.
A reação positiva faz jus à paisagem da unidade de conservação administrada pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea) e reconhecida pela Organização das Nações Unidas para Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) como parte integrante da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica. Nas palavras do próprio Darwin, que registrou a experiência em seu diário ao explorar uma área próxima a Maricá: “Após passar por uma região cultivada, adentramos em uma floresta cuja magnificência não podia ser superada”.
Para o vice-governador e secretário de Estado do Ambiente e Sustentabilidade do Rio de Janeiro, Thiago Pampolha, esse episódio serve como um recado para as gerações futuras: “A passagem de Darwin pelo estado deixou um legado não só para o país, mas para toda a ciência mundial. Por meio da recuperação desses fragmentos históricos é possível ampliar o debate do nosso papel na preservação ambiental e mudar a forma como agimos de maneira coletiva”, destacou Pampolha.
À época da expedição, a biodiversidade fluminense, inserida em paisagens “muito selvagens e montanhosas”, já apresentava espécies nunca vistas por um viajante europeu. Plantas adaptadas ao clima quente e úmido, com raízes capazes de parasitar árvores, instigaram a curiosidade do naturalista britânico de uma maneira que nunca havia acontecido.
“Ao ter contato com a diversidade da Mata Atlântica, Darwin começou a perceber certas diferenças ínfimas entre espécies como, por exemplo, a existência de planárias que eram terrestres, e não aquáticas”, conta a pesquisadora e professora do Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Lorelai Kury. Segundo ela, o acúmulo de conhecimento e evidências obtidas influenciaram na elaboração da teoria da seleção natural.
Apesar dos efeitos antrópicos serem grandes, a diversidade na Serra da Tiririca continua incomparável. Em um levantamento realizado em 2014 pelo PESET, constatou-se que mais de 80 espécies de animais vivem dentro dos limites do parque. O segmento mais representativo, com 67 espécies identificadas, é a avifauna presente na unidade de conservação. O estudo teve o intuito de facilitar a compreensão de conceitos referentes à valorização da fauna local e se tornar base para futuras análises, demonstrando como a preservação ambiental é uma ação possível.
Ainda é possível percorrer o mesmo caminho trilhado pelo pai da seleção natural no século XIX. O projeto Caminhos de Darwin, que busca resgatar um pedaço da história e aumentar o interesse da população sobre a ciência, é composto pelos doze municípios fluminenses que fizeram parte da rota da expedição de três meses no Rio de Janeiro. Partes deste trecho estão presentes em Niterói e Maricá, dentro dos limites do PESET, onde pode-se fazer uma viagem no tempo e entender a importância da região para o que, possivelmente, foi uma das descobertas científicas mais importantes da história.
Segundo o doutor em História das Ciências e da Saúde e pesquisador da Fiocruz Anderson Antunes, o projeto funciona como um ponto de partida para pensar a preservação e a importância da natureza brasileira não apenas de maneira regional, mas também dentro de um contexto global. “Conhecer é o primeiro passo para preservar e reconhecer o enorme patrimônio natural que o Rio de Janeiro tem a sorte de ter”, destacou o historiador.
Os Caminhos de Darwin abrangem os marcos que foram colocados desde a cidade do Rio até o município de Conceição de Macabu e servem como ponto focal para a importância da natureza da região. As trilhas funcionam, ainda, como um lembrete do valor histórico da visita de um dos naturalistas mais famosos que já visitaram o Brasil e da influência que essas interações tiveram, e continuam tendo, para as comunidades locais.
Segundo Antunes, esse episódio histórico tem grande potencial para incentivar novos projetos de educação ambiental, principalmente em escolas, sobretudo visando cessar o avanço do desmatamento da Mata Atlântica – peça principal da natureza exuberante que tanto chamou a atenção do Darwin. Uma das abordagens utilizadas pelos guarda-parques do Parque Estadual da Serra da Tiririca é a utilização da própria paisagem da área de proteção para conscientizar os visitantes e promover a sensibilização acerca das belezas naturais da região. Composto por trilhas interpretativas, é possível acompanhar o caminho a partir de diferentes perspectivas e explorar, ainda, os contextos geológico e hidrológico do local.
Criado em 1991, o Parque Estadual da Serra da Tiririca abrange partes dos municípios de Niterói e Maricá, na Região Metropolitana do Rio. Com uma área de 3.492 hectares, inseridos tanto em áreas terrestres quanto marinhas, a unidade de conservação surgiu a partir da mobilização de movimentos ambientalistas e comunitários.
O Caminho de Darwin é, atualmente, um dos principais atrativos do parque. Com 2,5 km de extensão, o percurso começa no Engenho do Mato, em Niterói, e termina no bairro Itaocaia Valley, no município de Maricá. Uma das características marcantes do parque é a sua biodiversidade animal, que permite que sejam encontrados desde besouros até tamanduás, preguiças e o falcão-relógio, uma ave rara de difícil observação. Dentro da trilha, é possível conhecer exposições fixas sobre a passagem e história de Charles Darwin, além de coleções da fauna e flora do parque.
Fonte: http://www.inea.rj.gov.br/ha-191-anos-charles-darwin-explorava-o-parque-estadual-da-serra-da-tiririca/